Dezesseis de outubro de dois mil e dez, um dos dias mais aguardados do ano para os amantes da música, afinal, não é sempre que se vê um evento que reúne artistas consagrados se apresentando em um único lugar, ainda mais com uma estrutura de luz e som bem montada. Assim foi o primeiro dia do festival Natura Nós, evento que reuniu artistas da música britânica como o Snow Patrol, Air e Jamiroquai na Chácara do Jokey (a 10 minutos de casa, ó), São Paulo. Mais um festival pra ficar marcado na vida dos paulistanos.
Só que esse não foi o único fato memorável da noite, enquanto uns se divertiam ouvindo Rock, do outro lado da cidade, uma legião de pessoas com roupas iguais e desproporcionais no tamanho, marcavam presença no reduto boêmio mais playboy famoso da cidade de São Paulo, a Vila Madalena, para presenciar o maior evento de rap nacional dos últimos tempos.
Noite célebre para os fãs da cultura Hip-Hop, em especial para Emicida, que se apresentava no local para o lançamento de sua nova Mixtape intitulada Emicídio com a participação de convidados ilustres de ninguém menos que: Kamau, Flora Matos, Criolo Doido, AXL, Nel Sentimentum, Rincón Sapiência, Rael da Rima, DJ Zegon, Marco e Kl Jay.
Depois de ter garantido meu ingresso uma semana antes, aguardei ansiosamente pelo fim de semana. Nem a ressaca e o forte enjoo que a sexta-feira me causou, foram capazes de me impedir de comparecer no show.
Cheguei no local por volta de 23h30 quando me deparei com uma fila enorme que acompanhava parte do quarteirão. Como já estava com o ingresso na mão, fiquei aguardando a irmã do Yuri que também é minha amiga e que ao contrário dele, não vacila a ponto de deixar pra comprar o ingresso na última hora chegar.
Esperei em torno de 40 minutos na frente do lugar onde vi a fila aumentar gradativamente conforme o tempo passava. Entre uma conversa e outra com rapaziada, finalmente as portas foram abertas para o público entrar.
Eram mais ou menos uma e pouco da manhã quando KL Jay, DJ Marco e sucessivamente DJ Zegon subiram ao palco para aquecer os ouvidos do público, fazendo a pista estremecer com os sucessos do Rap internacional. A discotecagem durou em torno de 40 minutos quando a música deu espaço para a voz de Criolo Doido e DJ Dan Dan anunciarem empolgados o nome do protagonista da noite.
Em meio a gritaria e mãos levantadas formando o famoso "N", Leandro Roque (Rock só o nome mesmo), o Emicida, sobe ao palco juntamente com DJ Niack e seu irmão Fióti pra cantar Só Mais uma Noite, música da nova mixtape Emicídio.
Até aí, o MC só precisou de apenas uma música pra ter o público nas mãos. Depois veio Rinha (Já ouviu falar?) música sobre o evento que reúne rappers em batalhas de rimas improvisadas, seguida de É Nóiz e Santa Cruz onde dividiu o palco com o rapper AXL.
O terceiro convidado a pisar no palco e se apresentar foi Nel Sentimentum, rapper representando o Sul do Brasil na pista - Particularmente não conhecia nenhum dos dois e me surpreendi com a presença de palco dos MCs. Ambos estavam seguros de si e conduziram bem o show ao lado do Emicida.
Com o público interagindo cada vez mais, o show logo foi tomado por uma vibe positiva até a aparição do carioca Marechal que fez uma das apresentações mais emocionantes do evento até então, quando cantou a música chamada Guerra.
Após a enérgica passagem de Marechal, Emicida volta ao palco pra cadenciar o show cantando partes das músicas de seus outros trabalhos como Sozinho, Pra Mim, Preciso e Hey Rap! onde se retirou do palco pra descansar.
Entre a fumaça química expelida pela máquina e outra ilícita lançada pela boca dos presentes, eis que surge o entusiasmado Criolo Doido com seu parceiro DJ Dan Dan pra cantar Sucrilhos. A apresentação dos dois resultou numa onda de braços subindo e descendo conforme o peso da batida da música.
Com a rápida passagem de Criolo, Dan Dan e Marco no palco, Emicida volta pra cantar músicas mais mornas, daquelas que você fecha os olhos e deixa as batidas conduzirem o corpo. Não demorou mais do que três músicas para chegar Flora Matos, Rael da Rima e Kamau pra embalar o público de vez cantando Pretim.
Seguindo essa agitação, Kamau permanece no palco pra cantar sucessos de seu último disco, Non Ducor Duco, pra felicidade que se misturou à surpresa dos presentes quando Emicida convocou ao palco ninguém menos que a lenda viva do rap nacional, Pepeu, primeiro brasileiro a gravar um rap. O MC logo incitou um enorme coro de "Obrigado Pepeu" antes de cantar a música Nomes de Meninas com a ajuda de todos os MCs convidados.
Era visível a expressão de felicidade não só do público mas principalmente do rappers cantando lado a lado com a pessoa que foi quase que responsável por todos estarem ali. Como era de se esperar, Emicida sempre homenageando as grandes figuras que fizeram parte da música brasileira.
Após toda a euforia, o clima de celebração não parou. Ainda veio Rael da Rima cantando suas músicas inspiradoras e Ricón Sapiência apresentando um de seus novos hits.
Até aí a festa já caminhava pro fim quando eis que surge KL Jay pra entregar à Emicida uma placa simbolizando 10.000 cópias independentes vendidas em todo o Brasil. Isso foi o suficiente pra deixar o MC aos prantos enquanto erguia a placa como um troféu no ar. Cena histórica! No embalo de toda a emoção, DJ Niack finaliza com a trilha sonora perfeita para o momento, Triunfo.
Nesse momento todos os MCs que estavam no palco começaram a cantar juntos, numa espécie de "We Are the World" do rap. A partir daí eu já não sentia nada, o enjoo que me acompanhou o dia inteiro se transformou num frio na barriga que me deixou completamente arrepiado. A multidão que se encontrava no local também parecia estar fora de si, foi surreal.
Não tenho palavras pra descrever o quão importante foi esse evento. Emicida e todos os envolvidos provaram que o Rap Nacional ainda continua firme e duro na queda. Quem perdeu não faz ideia de como está o Rap no Brasil
Fotos por:
B.Dog
Vídeos por:
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Pebanlian
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